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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Parkinson Corporativo

Hoje tive um momento de boas lembranças, encontrei no linkedin o maior culpado pela minha escolha profissional, um ex-professor da ESPM-RJ, o Marins. Com isto lembrei que sou do tempo que marketing era Marketing e não esta profusão de especialidades, todas com marketing no título, no máximo tínhamos assistentes, que eram responsáveis por algumas ações e não por pensar em pedaços, neste tempo um gerente de MARKETING era formado para pensar estrategicamente, pensar em todas as fases de um produto, planejar ações em cada fase e implementar cada uma delas.

ïamos da discussão com a produçào, pensávamos e analisávamos pesquisas, fazíamos estudos de viabilidade, criávamos políticas de preço, estruturávamos canais de distribuição, apresentação no ponto de venda, embalagem, discutíamos planejamento de comunicação, planejamento de mídia e em alguns momentos éramos os responsáveis por propor ao time financeiro uma nova modalidade de pagamento, ou financiamento, isso quando não íamos além. Alguns chama isso de generalista, eu chamo de PROFISSIONAL DE MARKETING.

Fui formado por um time de primeira, professores de ótimas escolas e faculdades, estes PROFISSIONAIS não me ensinaram que o marketing é formado por partes, mas sim um todo. Hoje em dia vejo o marketing fatiado, temos mais cargos em marketing que jamais tivemos, algumas empresas e não são poucas e nem pequenas, confundem marketing com uma coisa bonitinha, aprovar campanha, lay out, fazer arte final, e sabe o que aconteceu com a profissão, um monte de conhecedores de pedaços de marketing, de pequenos pedaços. Aí eu, que me considero um PROFISSIONAL DE MARKETING, bem formado, bem estruturado, focado, que não sou conhecedor só do pedaço de marketing e sim do todo do marketing (culpa do Marins), sou taxado, carimbado e devidamente excluído como um GENERALISTA.

Sabe, eu aprendi com estas feras, meus professores, o que é ser PROFISSIONAL DE MARKETING, o Antomar Marins, o João Batista (JB pros íntimos) e outros tantos que não me lembro do nome, mas foram muito importantes, tantos cursos, pós, especializações, que ensinaram que ser PROFISSIONAL DE MARKETING é conhecer o negócio, integrar a solução e pensar em todo o ciclo de negócios e em cada ciclo, que marketing tem tudo a ver com finanças ( afinal quem faz o caixa), que fluxo de caixa e estudo de viabilidade econômica são papéis do marketing, que comunicação é uma parte pequena do marketing, que vendas é outra delas.

Pensar o negócio de maneira estratégica era o que o marketing tinha que fazer, mas aí criaram o gerente de merchandising, o de trade marketing, o gerente de produto, o gerente de comunicaçãoo, o de mobile marketing, o de internet marketing, o de marketing institucional, o de marketing X, o de marketing Y, isso sem falar em cargos que só o pessoal de RH entende. O que é ser analista, que Freud e os analistas de sistemas me perdoem, mas entendo assistente, consigo pensar em assessor, mas analista não tem um Cristo que consigam me fazer entender o que é.

Tudo isso me lembra a história do cego (deficiente visual pros politicamente corretos) que com uma dor dos diabos no dedão do pé esquerdo vai a um prédio em sua cidade e , por engano, entra na sala de um advogado, que muito solícito atende o cliente muito simpaticamente e diz "no que posso ajudar?". O cego vira e diz "Olha doutor, estou com uma tremenda dor no dedão do pé esquerdo, o senhor poderia me ajudar?", o advogado educadamente vira e diz "me desculpe amigo, mas sou especialista em direito.". O cego vira espantado e diz "Meu Deus, vai ser especialista lá na casa do ....."

Fico me perguntando se com tanta especialização, e me atenho à área de marketing para não ser GENERALISTA demais, não estamos usando Taylor como desculpa. A Culpa é deste cara, que pensou na especialização extremada, tempos e movimentos, para criar a linha de montagem, ou seja, ele conseguiria trocar os artesões (ou artesães??? ) por uma série de pessoas que conhecessem uma pequena parte do processo e fizessem isso apenas, até a exaustão. Com isso reduziria o custo da mão de obra, que menos especializada seria mais barata e poderia produzir um volume maior de produtos. Idéia perfeita para produtos, não para raciocínio.

Como nós administradores somos umas bestas (me incluo nisso) e como a mão de obra está se imbecilizando, algum gênio pensou " Se Taylor fez na linha de montagem, porque não posso fazer nas outras áreas e contrato gnte mais focada em uma parte de cada área, só para ver cada parte do processo ao invés de ver o todo, assim consigo reduzir o custo e posso aumentar "a produção" de raciocínio".

Acho que este administrador não assistiu "Tempos modernos do Chaplin", não viu que no final o coitado do especialista sai repetindo os movimentos tão automaticamente que ele não raciocina mais, não produz melhor e pior ainda, precisa de uma negócio que é controle de qualidade, que chamavam primeiro de supervisor, depois de gerente, aí chegamos no diretor e depois no VP.

Esta "taylorização" das funções e cargos de marketing estava no nível de assistente, subiu para o nível de gerente, depois diretoria e em algumas empresas maiores já está no nível de VP, isso faz muito bem para o ego de alguns profissionais, afinal "Sou especialista", seja assistente, analista (mesmo não concordando vamos lá) gerente, diretor, VP do que quer que seja.

Sabe o que gerou a especialização. A deseconomia em grande escala, cada vice presidência/ diretoria/ gerência destas tem uma estrutura, esta especialização tem um custo enorme que gera auto-alimentação, ou seja ela se alastra e toma conta do corpo, do cérebro e de tudo o mais em uma organização. É o parkinson corporativo.

Se a empresa não for do tamanho do nosso Senado, que tinha 180 diretorias, acho que precisamos pensar e repensar a especialização.

Antes que gritem, alguns vão dizer "O cara é louco, se desmontarem esta estrutura toda, um monte de gente vai perder o emprego", garanto que não sou contra o emprego, que não sou contra os especialistas e muito menos contra um trabalho honesto, mas fazendo uma analogia com médicos novamente.

Eu nào confio no especialista do dedão do pé esquerdo. Como ele vai poder dar solução para a minha dor sem ter visão do todo e descobrir que a causa da dor é o maldito cinto apertado que estou usando e prendendo a circulação.

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