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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Talentos ocultos.....lendo o livro além da capa.

Prezados, estive hoje pensando sobre o post que escrevi na últma semana e procurando fundamento em fatos, infelizmente sou um incansável buscador de fatos para balizar decisões e opiniões. Lembrei de um caso recente, que foi notícia em todos os veículos de comunicação do mundo, que reflete muito o post que escrevi.

Falo de Susan Boyle, uma escocesa de 47 anos, camponesa na melhor acepção da palavra, simples, simplória até, dona de um talento musical como poucos que conheci. A história dela é muito interessante, décima filha de um casamento de professor com artesã, filha mais nova que nasceu quando a mãe tinha 47 anos, uma gravidez que redundou em um parto complicado onde Susan ficou vários minutos sem oxigênio. Taxada de débil mental só conseguiu emprego na cozinha da escola em que estudou. Crendo em seu talento participou de diversos concursos musicais em sua região. Nunca tendo ganho nenhum. Será que só agora sua voz se tornou o que é? ou será que seu talento sempre esteve alí, mas sua aparência levou a julgamento ou pré julgamentos.

Aí analiso o vídeo que é sua consagração, visto no youtube por mais de 120 milhões de pessoas ao redor do mundo, reproduzido em todas as línguas e em diversos veículos de comunicação da mídia tradicional. Notem que as expressões dos 3 jurados mudam ao longo do vídeo, notem que a platéia fica extasiada com o talento inato desta moça, mudam desde o primeiro acorde dela, pela primeira vez vêem o talento, vêem o conteúdo dela simplesmente.

Ela não cantou melhor do que cantou em outros tantos concursos, ela não emocionou mais ou menos do que antes, ela simplesmente conseguiu expor seu talento, sua história, seu conteúdo completamente, mesmo com o pré julgamento, o cinismo e o preconceito de todos. Seu talento é diferente de outros cantores? Talvez não, muito provavelmente não, mas as pessoas não conseguem conceber que uma pessoa diferente do que imaginamos como ideal tem muito mais do que sua imagem, do que a capa do livro.

Ela neste vídeo simplesmente consegue expor seu talento. Corajosa ela? muito. Louca por se expor desta maneira? Talvez. Mas segura de seu talento.

Ela precisou de 47 anos para mostrar que é uma excelente profissional em sua área, mais do que isso durante estes 47 anos ela foi rotulada, impediram-na de seguir com seu talento, de explorar seu potencial ao limite.

Trazendo para o mundo corporativo, quero mostrar que antes de julgarmos um profissional por qualquer critério, não falo de deficiências apenas, não seria maduro me ater a isso, talvez precisemos ler o livro inteiro, conhecer o livro inteiro, ouvir mais do que escutar, enxergar mais do que ver, entender mais do que julgar.Ser superficial em julgamentos nos alivia, baliza critérios superficiais, mas talvez tenhamos uma Susan Boyle em nossas mãos, ou muito próximo delas, e não cheguemos nem a escutar o primeiro acorde.

Felizmente esta fase terminou para Susan, lançado, seu CD já se encontra entre os mais vendidos este ano, entrou nos eixos o mundo para este talento e dia mais, dia menos entrará para todos os talentos que estão escondidos atrás de julgamentos, preconceitos, superficialidades e outros, uma questão pura de tempo.

Os que a pré julgaram, bem, estes continuam pré julgando, pré concebendo, com suas verdades, com seus preconceitos, com suas muralhas, pena que continuem com estes valores e procurando a próxima Susan para julgar.

Pense nisso

P.S. : Partindo do dito chinês, que uma imagem vale mais do que 1000 palavras segue o vídeo mais completo que achei, assim conseguimos entender tudo o que disse.
http://www.youtube.com/watch?v=j15caPf1FRk

"O homem não é a soma do que tem, mas a totalidade do que ainda não tem, do que poderia ter"
Jean Paul Sartre

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Reflexão pessoal

Prezados, final de ano, inevitável fazer reflexões de vida, hoje vou falar apenas de minha história. Tenho 39 anos, 22 dos quais vivendo com uma deficiência física, uma grande experiência, me considero um privilegiado. Fiquei tetraplégico aos 16 anos, um acidente dos mais prosaicos, numa tarde quente de janeiro de 1987 mergulhei na piscina e de lá saí direto para uma nova fase de minha vida. Com mais incertezas, com mais esforço, com algumas derrotas e muito mais vitórias.

Um acidentado com traumatismo de coluna cervical é um vitorioso por definição, todos os movimentos que volta a ter são vitórias enormes, mais importantes do que medalhas de ouro, mais importantes que recordes e títulos mundiais.

Conseguir ficar sentado na cama, usar o braço novamente pela primeira vez, voltar a sentar, sentar pela primeira vez na cadeira de rodas, ficar de pé são vitórias que não tem comparação. No dia a dia não damos importância a coisas simples, para um tetraplégico, depois do acidente a vida é um aprendizado, somos novos aprendizes, fazemos tudo que as pessoas fazem, diferente do que os outros, mas com certeza de maneira mais eficiente.

Tive muita sorte, uma equipe médica que além de competente era comprometida, profissionais que mais do que formação eram enviados por Deus, abençoados por Deus, guiados por Deus, pois de outra forma como poderiam eles terem feito milagres comigo e com tantos outros, estes milagres foram muito além e voltei a ficar em pé, depois andar nas barras paralelas, andador, muletas, bengala e finalmente sem apoio.

Somos a única máquina, que mesmo “quebrada”, consegue continuar fazendo as ativididades que fazíamos, de maneira diferente, com mais inteligência e menos músculo, mas com muito mais força que todos.

Tive muita sorte e uma nova chance, pois além destas vitórias incomparáveis tive muitas outras.

Tenho uma vida normal, amigos, família, viagens, aventuras, pratiquei off road com jeeps durante alguns anos, estudei, me formei, fiz cursos de especialização e pós graduação, trabalhei e trabalho, casei, descasei, casei de novo. Tenho dois lindos filhos Giovanna, miinha princesa, e Lucas, meu príncipe. Sou um executivo de alto nível, mais de 20 anos de experiência em empresas no Brasil e fora do Brasil.

Todas estas conquistas foram frutos de grandes batalhas, duras, complexas e impossível dizer que não sou um vitorioso.

Nunca me penalizei por ter acontecido o que aconteceu, fatalidade, destino ou qualquer outro nome que  se queira chamar, aconteceu e pronto. Analisando algumas coisas vejo que ao invés de serem diferenciados positivamente algumas pessoas vêem os deficientes negativamente. Não pensam em nenhum momento que este ser humano é um batalhador, um lutador, um vitorioso.

Viver em um mundo que darwinianamente foi feito para os mais fortes e hábeis com um deficit é uma vitória e tanto, mostra o quão forte é este ser humano, ele é melhor, mais apto e mais forte que qualquer outro dos ditos normais. Pois além dos desafios e limitações de qualquer ser humano ele vive com outras limitações em um mundo não necessariamente dos mais amistosos.

Talvez este indivíduo não corra tão bem quanto o Usain Bolt, talvez não jogue futebol como o Ronaldo, muito provavelmente pode não mirar tão bem quanto os snipers dos filmes policiais e também pode não cantar ou ouvir como um Plácido Domingo, mesmo assim ele vive e vive com dignidade. Dignidade que muitas vezes ele luta para conquistar e pior luta contra todas as dificuldades suas e mais algumas impostas pela sociedade.

Estou desempregado há 10 meses, nunca achei que fosse passar isso, hoje acredito que estou com maiores dificuldades de encontrar um trabalho em virtude de minha deficiência, olham meio de lado, imagino que pensam que por ter alguma sequela eu seja sequelado, tenha menos capacidade do que outros, seja menos resistente que alguns ou aguente menos o tranco que os ditos normais. Ninguém fala, ninguém diz isso claramente, fica a impressão, fica a incerteza, fica o preconceito velado. E sabe o que é pior, e uma batalha que não se tem como lutar, porque o conceito é formado previamente e não se dá a chance de eu, ou qualquer pessoa deficiente ou não, mostrar que tenho muito mais virtudes do que defeitos.

Tive a grata satisfação de conviver ao longo destes 22 anos com gênios, pessoas que tem deficiências e são eficientes, produtivas, competentes, empresários e executivos, pessoas normais que mesmo deficientes viviam como se fosse o último dia de vida deles, com prazer, com alegria, com força e com garra. Se tive professores bons estes foram os melhores.

"Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que faço com o que fizeram de mim"
Jean Paul Sartre