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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Falta de mão de obra qualificada - será???


Li hoje esta coluna publicada na Folha de ontem, literalmente jornalistas não deveriam escrever sobre assuntos que não dominam e esta coluna apenas confirma minha teoria.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/patriciacamposmello/1209726-estrangeiros-are-welcome-tomara.shtml
Apesar de acreditar na liberdade de imprensa e na democracia, alguns deles são muito superficiais em suas análises para poder opinar sobre assuntos tão importantes, mesmo quando estão repercutindo um projeto da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Com exceção de economias extremamente mal estruturadas, nenhum país sério do mundo tem uma política de empregos para estrangeiros tão aberta quanto esta que propõe o Ministro Ricardo Paes de Barros da SAE, e não tem por motivos simples, a mão de obra assim como o capital ( como dizia o Delfim Neto na década de 80 e 90) deste tipo é turista, não cria raízes, não transfere tecnologia e nem conhecimento.
Ela vaga pelo mundo atrás de oportunidades, acabada esta oportunidade ela vai para a próxima seja no Brasil, na Turquia, na Rússia ou no Vietnã. É uma solução preguiçosa, de curto prazo e dentro da teoria do "vendo o almoço para alugar o jantar".

O problema do Brasil é mais sério, mais estratégico, é estrutural e não conjuntural.
A mão de obra, dita qualificada, disponível é oriunda de países com problemas econômicos sérios, entre eles Estados Unidos, Espanha, Grécia, Portugal, Itália, Inglaterra e por aí vai, estes países vivem atualmente com taxas de desemprego acima de 20% da PEA e dependendo da faixa etária esta taxa de desemprego chega a 50%. Esta mão de obra disponível para exportação é de nível gerencial médio  ou técnico operacional e neste nível nossa mão de obra é tão qualificada quanto a deles, em alguns casos melhor.

Temos uma tarefa estrutural muito grande ainda antes de pensar em importar mão de obra de onde quer que seja, nosso PIB per capita é menos da metade de muitas destas economias, nossa produtividade é uma fração das maiores do mundo, nosso salário no nível médio de gerência ainda é abaixo do salário pago nestes países,  trazer mão de obra gerencial e técnica de nível médio é importar os problemas destas economias sem ter solucionado o da nossa.
É preguiça do governo e dos contratantes querer importar mão de obra, é querer reduzir custos e investimento, é tratar o Brasil como se fôssemos os Emirados Árabes, é tratar o Brasil como uma economia secundária e como se fôssemos novos ricos árabes que estamos construindo um Burj al Arab, um Burj Dubai ou as palmeiras do Jumeirah, apenas para dar 3 exemplos e não uma economia séria, rica e estruturada.

Não sou ufanista, sou realista, temos uma economia entre as 10 maiores do planeta, temos um futuro promissor em todos os sentidos, somos hoje a salvação de muitas das multinacionais em sua linha de lucros, muitas vezes somos o único lucro que elas tem em um mar de prejuízos em suas matrizes.
Enxarcar o mercado com profissionais estrangeiros, normalmente com salários mais altos que os pagos ao profissional nacional, em detrimento deste último, é sermos colonizados novamente época na qual as capitanias hereditárias eram doadas aos amigos do Rei vindos d´além mar e não aos nascidos no Brasil.

Um exemplo fora da europa é a Foxconn que anunciou investimentos bilionários no Brasil, dizendo que traria novas tecnologias para nossa economia (mentira das brabas a Foxconn nada mais é do que uma montadora de aparelhos de terceiros, que agrega pouco mais de US$ 27 dolares de valor ao IPAD por exemplo), ainda exigiu financiamento brasileiro (BNDES) e que empresários brasileiros sejam sócios no empreendimento, o Eike logo anunciou que seria um destes investidores para variar, e para variar também até agora nada aconteceu de concreto.

Em seguida o Mr Terry Gou, em palestras de recrutamento nas escolas chinesas dizia que ia para o Brasil mas que os brasileiros são preguiçosos, que não trabalham como os chineses, que custam mais caro e que não são eficientes.
Cabe lembrar que centenas dos trabalhadores da dita empresa entraram em greve de fome e alguns se suicidaram na China por melhores condições de trabalho, que as fábricas da Foxconn no Brasil foram investigadas, fiscalizadas e multadas pelas baixas condições de trabalho que oferecem no Brasil. Inclusive inúmeras reclamações feitas pelos trabalhadores sobre gerentes chineses que os maltratam e ofendem exigindo jornadas de trabalho exaustivas sob condições fora das especificadas pela lei.

Vamos, governos em todos os níveis e empresas privadas, pegar o touro pelos chifres, vamos aumentar nossa taxa de investimento que hoje é menos da metade da chinesa, americana, japonesa e coreana, vamos investir em educação, qualificação, pesquisa e desenvolvimento, melhoria da produtividade, na melhoria da qualidade das condições de trabalho de nossa mão de obra, reequipar nossas indústrias, melhorar nossa infraestrutura geral, reduzir os custos indiretos de mão de obra, reduzir carga tributária, melhorar a competitividade do País como um todo, com isso aumentar a renda média do trabalhador brasileiro,  possibilitar mais qualificação desta família e da população em geral.
Verdade que talvez não seja o mais simples, o mais fácil nem o imediato, mas em algum momento teremos que aproveitar esta oportunidade e para fazer isso precisamos começar de alguma maneira e não é importando mão de obra. Finalmente temos esta oportunidade, finalmente temos esta janela.

Jogar fora esta janela importando mão de obra é jogar fora o futuro do País, da qualidade de vida do trabalhador e aceitarmos a condição de vendedor de comodities e exportador de mão de obra barata (como quer o Mr Terry Gou da Foxconn), o que seria lamentável.

P.S. IMPORTANTE: O hiper mega blaster master profissional formado pelo MIT, ABC, XYZ, CDF ou qualquer outra sigla, sempre terá espaço em qualquer economia do mundo, mas não precisa de tratamento especial para ser importado e sim fazer parte desta política de investimento e podemos começar a trazer de volta, além dos jogadores de futebol, os tantos talentos que foram exportados por não termos uma política séria no desenvolvimento de nosso País.