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domingo, 2 de maio de 2010

Chamar um executivo de "Hands On" é um equívoco?

"Hands on" é um termo vago para o que se propõe, deixa dúvidas e apoio quando usa-se o termo correto do "management by walking around" ou aportuguesando um termo em inglês, o famoso "gastar sola de sapato". O pessoal da Ambev ( e outras empresas do mesmo grupo de investidores) usa o modelo de gestão "management by walking around" muito bem, do gerente mais júnior até o conselho gastam suas solas de sapatos procurando melhorar a operação.

O executivo "hands on" é aquele profissional que mesmo planejando "gasta sola de sapato" antes do planejamanento e depois de implementado o conjunto de ações, medindo se o modelo proposto está surtindo o efeito esperado, performando como planejado. Se está, onde pode ser melhorado. Se não está, onde está o gargalo ou erro que deve ser corrigido. O professor Falconi usa a sigla PDCA ( Plan-do-check-act) resumindo o porque um executivo “hands on” é necessário.

Todos somos “hands on”, talvez não operacionais, mas mesmo sendo estratégicos buscamos melhorias de performance e esta melhoria passa por “gastar sola de sapato” onde as coisas acontecem, a operação. Quem de nós nunca saiu com uma ou mais pessoas de nossos times de vendas, quem não passeou pela produção, linha de montagem ou pela oficina, quem não conversou com um supervisor ou gerente jr sobre o dia a dia dele, quem não acompanhou um roteiro de entregas do pessoal de logística apenas para saber o que acontece em uma rota de vendas.

Não digo que vamos tirar pedidos (apesar de não ver nada contra), nem sou besta de colocar a mão em uma prensa hidráulica ou em um torno (temos dirigentes famosos que carregam o resultado da falta de habilidade no torno até hoje), não sei se vamos tocar um mês de vendas ou de operação de determinada área (apesar de não ser ruim algumas vezes), nem acho que sou um bom motorista de caminhão ou furgão para substituir o time de logística (sugiro para alguns ir no carro atrás deles, andar 8 horas pelo trânsito de qualquer grande cidade em um caminhão ou furgão que compramos para baratear custos sem ar condicionado, sem direção hidráulica e com a caixa de marcha arranhando a terceira, não é a coisa mais simpática do mundo).

É fundamental sim acompanhar o desempenho de áreas ou área sob nossa gestão/direção, caso contrário vamos acabar sendo aqueles executivos que depois de uma reunião o time vira e diz em nossas costas..... "É...o chefe é bom de verbo, mas muito ruim de ação. Quero ver ele bater esta meta que empurra goela abaixo, ele não conhece o seu Joaquim do bar N. Sra de Fátima, nem o Jairzão do boteco da dona Matilde (os nomes mudam para cada ramo, lógico). Mandar eu vender este volume é mole, quero ver ele convencer o cara que comprar nossa tubaína é melhor do que comprar a “cachaça bebe aqui, cai ali” (marca fantasia, por favor não procurem no google)".

Sentar no castelo, esperar os relatórios das áreas e depois cobrar o desempenho e a performance esperada talvez não seja a maneira mais fácil de descobrir coisas importantes da operação que afetam nossas estratégias. Pesquisas de mercado não respondem o porque de muitas coisas, grupos de discussão e focus group nem sempre são tão sinceros quanto imaginamos.

Não mata ninguém andar, suar um pouco, encostar na máquina (muito cuidado com o terno do Ricardo Almeida, Zegna ou Armani, não sou machista o mesmo serve para as mulheres com suas roupas de grife) e conversar com o Zé da ferramentaria, o Raimundo torneiro ou o Tião da pintura, muitas vezes podemos descobrir a solução daquele problema que a engenharia está tentando resolver há 6 meses, ou você pode ouvir que o aço que compramos “está uma porcaria, doutor” (fora da especificação para nós executivos estratégicos). Isso está aumentando o tempo que eles gastam para preparar as peças (diminuindo a performance deles, aumentando custos, diminuindo vendas e provavelmente nossa margem) . Muitas vezes eles vão surpreender e mostrar caminhos que, de dentro de nosso conhecimento e de nossa sala com ar condicionado, não são mensuráveis ou possíveis.

Isso é ser “hands on” na minha opinião, podemos chamar também de “senso de dono” ou ainda de “executivo-romântico- e- besta-que-acha-que-está-certo”, não necessariamente seremos o operador, mas acompanhar de perto o que se está fazendo no front operacional para depois atuar na melhoria e aprimoramento da estratégia e do negócio para mim é essencial.

PS.: Antes que digam que estou sendo acadêmico, que é impossível fazer tudo isso e ao mesmo tempo ser diretor, gerente, superintendente ou qualquer cargo que queiram, garanto que dá. Com exceção de operar um torno ( por amor demasiado a todos os dedos das mãos), o resto todo eu fiz pessoalmente (sobre a área de logística, bom na semana seguinte entramos em um programa de substituição da frota em que todos os carros de entrega da empresa teriam ar e direção hidráulica. Resultado: menor turn over em logística, menor número de multas e acidentes, redução de consumo de diesel em 15% e de mais de 30% nos custos de manutenção da frota. O investimento inicial se pagava em menos de 6 meses).