Gosto destas discussões de internet que tenho visto. Uns
“jênios” insistem no falso-dilema que a CLT impede o ganho de produtividade da
mão de obra e que isso tira a competitividade brasileira quando comparada a
outros mercados.
Criaram inclusive uma mentira para comprovar a farsa
dantesca “Você já viu algum trabalhador americano, que não tem legislação que o
proteja querer migrar para o Brasil, que protege seus trabalhadores com a CLT”.
Vi sim, centenas, milhares até. Até 2013 a grande discussão
na imprensa era exatamente esta, a quantidade de estrangeiros que queria vistos
de trabalho no Brasil, em virtude do booom econômico que vivíamos, com taxas de
desemprego de 4,7%. Naquela época, cabe lembrar aos incautos e superficiais,
que a CLT também existia.
A questão de migração de mão de obra tem tanto a ver com
legislação trabalhista, quanto a física quântica com a língua presa do Lula. A
mão de obra migra para a economia mais vibrante esteja no Brasil, nos USA, na
Argélia, no Afeganistão ou em Marte. E como se sabe, apesar de se negar isso
veementemente, o que faz uma economia vibrante e competitiva é investimento.
Dito isto vamos ao cerne da questão e vou usar exemplos para
explicar o quanto o empresário não faz a parte dele no que tange a
produtividade, transfere esta responsabilidade para todos, menos para o
verdadeiro culpado por ineficiência produtiva, ele mesmo.
Exemplo 1:
1 produtor rural contrata 76 cortadores de cana que usam queimada,
foice e facão para seu trabalho, colhem 1 tonelada de cana por dia, ganham cada
um R$ 1.000,00 por mês para fazer isso, além de transporte, refeição,
equipamentos de proteção, tem dispensas por problemas de saúde, trabalham 8
horas, 22 dias úteis por mês. Ao final da safra manda embora todos os
cortadores de cana porque “não tem trabalho para eles”.
1 produtor rural usa uma colheitadeira de US$ 1,5 milhão ,
treina o cortador de cana para operá-la, paga um salário de R$ 12.000 para este
ex-cortador de cana treinado e especializado em operar a máquina, que terá uma
vida útil de 10 anos e colhe 76 toneladas de cana por dia de colheita nas
mesmas 8 horas, nos mesmos 22 dias, mas este chega no seu carro, recebe vale
refeição, trabalha no ar condicionado da máquina e, ao final da safra, é o
responsável por acompanhar a manutenção da máquina, faz um treinamento sobre
novos modos de operação dela, estuda melhorias e modelos mais eficientes e
discute com o gerente tudo isso.
Exemplo 2:
Uma copeira tem como função fazer o café para o chefe quando
chega ao escritório e para isso, tem que acender o fogão, lavar o coador de
pano, colocar água e esperar ferver na chaleira, lavar a garrafa térmica e
ficar olhando o café ser coado ao mesmo tempo que coloca mais água quente no
topo da traquitana para ela funcionar direitinho. E ela ainda escuta gracinha
do tal chefe que ela estava enrolando pra fazer o café, que tem que limpar o
escritório e cobrir o horário de almoço da telefonista.
Outra copeira usa uma cafeteira automática comprada por US$
1.500, é treinada para usá-la, coloca no dia anterior o pó de café e a tal
cafeteira se ligará sozinha as 7:00 no dia seguinte, liberando para que ela
chegue, sirva o café e vá fazer suas outras tarefas, inclusive a de cobrir a recepcionista
( a telefonista já não existe aqui pois o DDR funciona).
Exemplo 3:
Uma tecelagem tem 1.000 equipamentos mecânicos, operados
manualmente por 1.000 operadores, que produzem cada 1200 m de tecido por dia,
que ganham R$ 1.300 por mês além de transporte, refeição, equipamentos de
proteção, tem dispensas por problemas de saúde, férias, filhos, trabalham 8
horas, 22 dias úteis por mês. Quando a “demanda cai” a tal tecelagem demite 50%
dos tecelões porque “a economia tem altos e baixos” e quando a “demanda crescer
de novo” eles voltam a contratar.
Outra tem uma rede de 100 teares de US$ 15 milhões, operados
por 5 engenheiros de produção, que ganham R$ 15.000,00, e produzem cada algo em
torno a 15.000 m de tecido por dia. Esta empresa exporta tecidos porque tem
contratos comerciais de longo prazo, explora mercados por ter tecnologia de
ponta que a torna competitiva em preço pelo volume que produz, a tal escala de
produção.
Bom, acho que fica clara a diferença, poderia citar pelo
menos mais uns 100 exemplos idênticos e similares.
Enquanto um privilegia o custo variável de mão de obra e
transfere para esta, diluindo riscos ao demitir o funcionário com baixa
qualificação, as “ineficiências” de sazonalidade, comerciais e operacionais. O
outro investe na tal formação bruta de capital fixo, aumenta e assume risco, reduz custos e ineficiências de produtividade,
ganha escala e a qualidade, o torna extremamente competitivo, mas infelizmente não
pode ser transformado em custo “cortável” pela falta de eficiência sazonal,
comercial ou do empreendedor.
Claro que a rentabilidade, o lucro e o retorno do segundo é
maior que do primeiro, a regra de proporcionalidade de risco e remuneração
continua valendo no mundo atual, lembra quanto maior o lucro, maior o risco.
Enquanto o primeiro tem como “produto” o trabalho da mão de
obra e a remunera por isso (um custo), o segundo tem como produto o trabalho do
“capital” e é remunerado por isto (lucro). A isto costumam chamar em países
desenvolvidos de capitalismo.
A tal formação bruta de capital fixo em grandes economias
(USA, China, India, Coreia, Alemanha e o resto da Europa) vai de 30% do PIB (na
Europa em média) a exagerados 43% na China, enquanto no Brasil nunca em nossa
história passou de mirrados 17% do PIB e na média é de menos de 13%.
Não por acaso a PRODUTIVIDADE da mão de obra lá (em todos
estes países) é inúmeras vezes maior que aqui, fazendo com que o custo direto
da mão de obra tenha peso menor, possibilitando melhor remuneração individual e
diluindo o tal custo indireto de mão de obra, os direitos trabalhistas. Uma
operação moderna sabe fazer estas contas, 80% dos empreendedores brasileiros
não sabem nem por onde começar.
E por isso a renda
média do empregado da indústria (moderna) na China já é maior que a brasileira
e será igual a europeia nos próximos 15 anos e a coreana, que foi 1/3 da
brasileira, já é quase 3,5 vezes maior que a nossa e igual a européia.
Também por isso a produtividade média do capital nas
economias mais desenvolvidas é de 3 a 6 vezes maior que a brasileira. Se
reclamam da produtividade da mão de obra, porque não resolvem a produtividade
do que é deles, o tal do capital.
Aumentar a produtividade da mão de obra é a principal RESPONSABILIDADE
do empreendedor, ninguém além dele é responsável por isso, repetir a (baixa)
produtividade de outros não é empreendedorismo meu caro, é burrice mesmo. Não
culpe por baixa produtividade nem o governo nem a própria mão de obra como
costuma reclamar o empresário brasileiro e os pseudo liberais, tão modernos
quanto os mercantilistas do século XVIII, querem fazer acreditar. O culpado é
você.
Aumentar a produtividade da mão de obra, transferindo o
risco do negócio para ela, penalizando apenas as condições de trabalho é falta
de visão de longo prazo, simplismo barato e populismo demagogo, aproveitando
uma onda idiota e pouco afeita a estudo mais aprofundado de fatos econômicos.
Falta ao empresário brasileiro capital, é um fato. Falta ao
empresário brasileiro saber fazer contas, parar de confundir conceitos básicos
como margem, mark up, rentabilidade (sobre capital INVESTIDO). Mas
principalmente falta ao empresário brasileiro parar de reclamar da vida,
crescer um pouco, parar de criticar a tudo e todos e olhar os SEUS ERROS, que
não são poucos.
No mundo adulto, só existe lucro depois de investimento, se
seu investimento (custo não é investimento e mão de obra é custo meu caro) é
baixo não espere grandes lucros, simples assim.
Transferir as ineficiências do empreendimento e do
empreendedor para o governo (e não nego que o governo precisa melhorar muito) e
para a mão de obra, é muito fácil.
Já crescer, virar adulto, entender onde erra é mais
complicado e isso não é novidade.
O Brasil está cheio de empresários imaturos e infantis, que
reclamam de tudo e todos, mas que ao invés de investir em seu negócio,
modernizá-lo, crescer, se tornar mais competitivo, o que fazem?
No primeiro
lucro este “empresário” troca de carro, compra uma casa na praia, faz uma
viagem prá Disney, compra um relógio de US$ 20 mil, aplica no CDB a 12% aa
(porque pelo menos garante alguma grana sem ter “que trabalhar”) e deixa a
fábrica com aquelas máquinas que “aguentam mais 5 anos”, não treina o time, não
investe no negócio, esperando “o mercado melhorar” para investir (E quando o
“mercado melhora”, não investe porque as ineficiências ficam encobertas).
Meu caro, lamento, mas o “mercado não vai melhorar” prá você
nunca.
Provavelmente vai melhorar pro chinês (pro indiano, pro
coreano, pro alemão e até pro americano) que reinvestiu o lucro no negócio,
comprou uma máquina (um equipamento, um computador ou um treinamento ) mais
moderna, produtiva e eficiente, tem escala e eficiência para competir
globalmente (não necessariamente) e fez uma viagem (de negócios ao invés de ir
prá Disney) para “abrir um mercado” que não atendia antes.
O (governo do) Brasil está muito longe de ser perfeito, a
mão de obra não é alemã (ainda), mas infelizmente o empreendedor brasileiro,
também está há anos luz do que imagina e como só olha o defeito dos outros, se
sente um eterno injustiçado, um “herói”.
Antes de culpar o governo, a mão de obra, o boitatá e o Saci
tente melhorar você, reduzir suas ineficiências, melhorar a produtividade do
seu (pouco e caro) capital, cresça um pouco.
Aí, quando estiver na ponta dos cascos, gaste seu tempo
reclamando dos outros. Vai ver que eles não atrapalhavam tanto assim quanto
você pensava.
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